terça-feira, 27 de agosto de 2013

Pôr - do - Sol em Mogadouro, Trás-os-Montes


Desde que me lembro, passo as férias de Verão em Mogadouro. 
São tantas as memórias! 
O calor, aliado à quietude dos fins de tarde, envolve os  registos mais marcantes.
Presente está sempre naquela varanda enorme, virada a poente,  a memória do meu Sogro, senhor afável, que apreciava sobejamente esses instantes de fugaz serenidade - um círculo de fogo, pleno, que paulatinamente ia descendo, deixando um rasto de luz.
Actualmente, já com os netos, o Filipe e a Catarina, numa constante roda viva, de energia inesgotável, esses minutos mais apreciados se tornam. 
Não me canso de olhar aquele mar de terras, uma vista distendida, próxima e distante...
Aquela cor castanha, intercalada de verdes, das árvores e dos lameiros, enternece e acalma, num frenesim de sentimentos.
Da varanda da casa, o pôr-do-Sol é magnífico.
O Sol, abrasador, começa a descer  através dos ramos do freixo que o meu filho, cumprindo o dever da sua irrequietude juvenil, a seu tempo depenou. O laranja avermelhado deixa-se entrever.







Incandescente, a pouco e pouco, vai deslizando para a linha do horizonte, jogando às escondidas no seu eterno retorno.





Num claro-escuro contrastante, vai recolhendo, para nascer noutras partes do mundo. Ainda aquece, mas o seu braseiro apaga-se e o fogo esmorece.





Cada vez mais difusa, a luz vai-se esvaindo, despedindo-se para o renascer do novo dia... 





Agradeço a colaboração fotográfica do Filipe Ferreira.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ratinhos em Trás-os-Montes


Pobres migrantes Ratinhos que tanto tiveram que caminhar, tal como tantos emigrantes transmontanos  caminharam, nas últimas décadas do século passado, procurando melhores condições de vida..
A pequena  mostra de peças ratinhas veio para terras transmontanas e aqui foi usada, tal como tantas outras que vamos encontrando por aí.
O seu "ajuntamento" tem uma história interessante. Há bastantes anos, nas férias, tínhamos por hábito, percorrer as aldeias do concelho de Mogadouro em busca de preciosidades e achados. O grupo era liderado pela minha sogra, senhora de uma personalidade forte e marcante. Não ombreávamos com ela, nem no poder de compra, nem na capacidade de persuasão. Encantava as pessoas que lhe "cediam" as peças e guardavam ciosamente as notas em pequenos rolos. Para essas pessoas eram o seu tesouro. O seu tesouro sonhado. Assim se foi juntando uma pequena colecção de faiança, entre eles os ratinhos, que a seguir se mostram.


Estes dois pratos exemplificam  bem a pluma de pavão. A decoração do primeiro,  nasce claramente de um dos lados da aba, espraia-se pelo covo e termina em grandes flores. Aqui foram usadas as técnicas do esponjado e dos pequenos círculos justapostos. O segundo, um pouco mais avançado no tempo, vive da variedade  e abundância das flores que preenchem toda a superfície da peça.



Um outro exemplar com uma ornamentação plena, demonstrando bem o "horror vacui" que, alguns artistas ratinhos, na esteira da cerâmica  Iznik, magistralmente sabiam executar. Toda a superfície está preenchida com um ramo de flores que se desenvolve, em simetria,  a partir de um eixo vertical. Com um esponjado mais cheio, ou mais distendido, as flores dispõem-se alternadamente, variando na forma e na cor.






Estes dois pratos, espiralados, revelam uma decoração diferenciada na aba.O primeiro apresenta uma divisão em cinco cartelas, descrita por uma linha pentagonal, ladeada por outra, paralela, de pequenos círculos justapostos. O segundo, com uma ornamentação definida em cercadura, sugere uma estrela, expressa por traços delineados através de círculos justapostos, em alternância nas cores amarelo ocre e manganés, intercalados por esponjados e filamentos verdes. Técnica rápida e experiente, que interpreta a mestria dos artistas ratinhos, capazes de, com instrumentos simples, executarem ornamentações inventivas e apelativas aos olhares dos futuros utilizadores.



Para finalizar, duas das peças  mais pequenas da colecção cujas  dimensões  reduzidas lhes conferem especial  graciosidade e leveza. Embora também apresentem a pluma de pavão, podem incluir-se no grupo das flores, pois que são o motivo decorativo dominante. A segunda peça é uma representação mais característica da pena de pavão, uma vez que os respectivos tons,  predominantemente o verde e manganés, a aproximam da configuração do núcleo da própria pluma.



















sábado, 3 de agosto de 2013

Terrina de Santo António do Vale da Piedade

Uma surpresa com o motivo decorativo"País"

Num jantar em casa de pessoas amigas, e no fluir da conversa, abordou-se o tema da produção das nossas faianças. Grande coleccionador, apreciador e profundo conhecedor de antiguidades  mostrou algumas peças, qual delas a mais excitante (permitiu-me tirar outras fotografias, que ficam para um novo post) e abriu-se a caixa de Pandora: da gaveta de uma cómoda, surgiu esta bela terrina. 



Dirão: " É mais uma..." É. Mas tem a particularidade - sinal distintivo muito raro na generalidade da nossa faiança - de se encontrar marcada. Foi produzida na fábrica de Santo António de Vale Piedade.


VALENTE, Vasco
"Cerâmica Artística Portuense dos séculos XVIII e XIX", p.145




 A marca é característica do terceiro período de laboração da fábrica, aquele em que se produziu "loiça de uso doméstico, estatuetas, vasos para jardins e azulejos de faiança" 1, que decorreu entre 1887 e a terceira década do século XX. Era sua proprietária a firma António José da Silva e Silva.
A concorrência de louças estrangeiras, principalmente inglesas, mais baratas e de melhor qualidade, obrigou a que a sua produção se tornasse  mais popular, destinando-se a um público com menor poder de compra.





O motivo "País" tem como matriz a decoração da louça inglesa executada com estampilha e predominância da cor azul. Esta sobressai do vidrado leitoso com que está coberta.
O casario desta peça não apresenta o típico edifício com cobertura oriental, antes lembrando uma construção  inspirada nos prédios pombalinos (referência já feita pelo LuísY, no seu blog Velharias), constituídos por vários andares e uma mansarda. Todo o conjunto está envolvido por vegetação.




Asas laterais bem delineadas que, pelo torcido das formas, poderão  simular troncos de árvore,  que se espraiam para baixo, pelo corpo da terrina, através de um apontamento de folhas, cujos contornos foram levemente acentuados.



Não quero terminar a apresentação desta peça,  sem agradecer ao seu proprietário a  gentileza e  imediata disponibilidade para  me deixar fotografar a terrina e divulgá-la neste blog. Bem haja.


1. VALENTE, Vasco "Cerâmica Artística Portuense dos séculos XVIII e XIX"