Um painel de Ratinhos
Uma área, que servia de floreira, com novas flores. Este conjunto de Faiança Ratinha, num espaço reconvertido, revitaliza e homenageia os artistas que souberam dar cor e alegria às peças de sua produção.
Pratos, palanganas e alguidar: as tipologias que, pelo seu formato e dimensões, podem ser observadas.
As pequenas oficinas que os produziam, muitas vezes unifamiliares, recorriam às suas próprias composições das pastas, realizando diversas misturas e ensaios, até conseguirem aquela cujo resultado os satisfizesse.
Depois de misturados, os diversos componentes eram introduzidos num tanque. A pasta obtida, depois de alcançar alguma homogeneidade, era retirada para um peneiro de metal, onde ficava em repouso, até a água se evaporar. Era a ocasião para seleccionar entre a camada mais fina -aproveitada para o fabrico de peças mais apuradas - e a parte mais grosseira, com a qual era produzida a generalidade deste tipo de faiança 1.
O menor cuidado na preparação da pasta originava, muitas vezes, deficiências e irregularidades: falhas no vidrado, deixando a descoberto zonas de massa rude contendo impurezas, bolhas e eflorescências.
A gramática decorativa dos artistas ratinhos era extremamente rica e variada, a ponto de se poder assegurar que não existem dois pratos ratinhos iguais. A imaginação criativa dos pintores consubstanciou-se numa grande diversidade dos temas abordados, que se podem reconduzir aos seguintes grupos temáticos: figurativos, vegetalistas, geométricos, simbólicos, históricos e satíricos.
Palangana com estrela, em forma de Rosa dos Ventos, de 16 pontas, sugerindo simbolicamente o caminho a seguir pelo Homem.
Outra palangana - terminologia que enquadra os pratos com dimensões iguais ou superiores a 35 cm - com uma decoração do tipo "arroz doce". A cercadura mostra pequenas cartelas, definidas por semicírculos concêntricos. Ao centro, observa-se o vidrado escorrido, sinal de uma peça ainda não totalmente seca, quando foi enfornada.
Este tipo de composição floral obedece a uma organização axial, na qual o ramo se dispõe simetricamente, dividido em grupos de três flores, envolvidas por leves filamentos. Utilizou-se a técnica do esponjado, em conjunto com o desenho à mão livre.
Prato com uma decoração leve e singela: pequena flor central inscrita numa coroa de flores, que ocupam a totalidade da superfície do covo. Falhas no vidrado e marcas de cortes, revelam sinais de muito uso. Um dos primeiros da minha colecção.
Uma decoração heptagonal definida por duas linhas paralelas, entrelaçadas com uma grinalda e filamentos. Ao centro, uma espiral, inscrita em três círculos justapostos.
Um alguidar com uma decoração invulgar e inscrição difícil de explicar, uma vez que apresenta a palavra Lisboa, circunscrita por três círculos concêntricos. Peça mais tardia, a raiar os finais do século XIX, início do XX.
1 LEPIERRE, Charles - Estudo Chímico e Tecnológico sobre a Cerâmica Portuguesa Moderna. Lisboa, Boletim do Trabalho Industrial, 1912.