terça-feira, 18 de abril de 2017

Meninos Jesus de Malines


Um conjunto de Meninos Jesus de Malines  reunidos para celebrar o 4º aniversário do blog. A sua graciosidade e o seu ar marcadamente flamengo, enriquecem este post. Sempre gostei de arte sacra mais simples, despojada da grandiloquência das imagens do século XVIII. 
Com dimensões variadas, entre os 17 cm e 37 cm, todos nos abençoam com gestos gráceis e cheios de significado. O facto de, dada a sua longevidade no tempo, terem perdido partes do corpo, principalmente aquelas que se apresentavam mais frágeis, como as mãos e braços, não lhes tira a sua beleza. Cativam-me e sempre me hão-de cativar. Esta classe de imagens, de vulto pleno, de feição naturalista, normalmente colocados em posição destacada, nos oratórios privados, particulares ou conventuais, apresentam, no esculpido, características particulares.


Nas oficinas da Flandres, principalmente em Malines, Bruxelas e Antuérpia, eram executadas estas imagens, algumas com um trabalho mais cuidado, talvez peças de encomenda, outras mais pequenas, com uma vocação mais comercializável. Antes de entrarem no circuito comercial, eram sujeitas a exames por parte dos representantes das Corporações de Escultores e Pintores, que lhes apunham as suas marcas e punções, abonando, assim, a "qualidade do material e a perfeição artística das obras"1.
Apreciadas em toda a Europa, eram transportadas nos porões das naus, na torna viagem. Entraram às centenas em Portugal e Espanha e, por extensão, nas respectivas regiões insulares.









 As características flamengas que os artesãos conferiram às suas feições são evidentes: ar risonho, uma expressão optimista, fronte ampla, rosto oval, olhos amendoados e um leve sorriso nos lábios.






Outra das características específicas desta produção é o tratamento dado aos cabelos. Dois caracóis frontais seguidos de uma cabeleira, também ela encaracolada, formando uma mandorla em redor da cabeça.






1- Bernardo Ferrão de Tavares e Távora- "Imagens de Malines", colecção Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa, 1976, pág.26.